segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Apenas para variar estava atrasado novamente. Engoli o
café como deu, e até queimei a língua, peguei meu computador e corri para o terminal
que, graças a Deus, fica do lado de casa. Após esperar a linha 019 por 25
minutos exatos consegui finalmente embarcar no ônibus. Alguns pontos depois, ficou vago um lugar
para sentar. Olhei rapidamente tentando ver se já não tinha ninguém indo e então
me sentei. Do meu lado esquerdo estava uma senhora distintamente vestida de
saía preta com estampa de flores vermelhas, bata branca, colete de renda verde,
uma cinta dourada e uma bandana que ainda não sei dizer se era azul ou verde de
tão claro.
Ela me olhava atentamente e por alguns momentos até
fiquei meio que desconfortável.
– Bom dia – disse eu, incomodado com tanto olhar.
Ela ponderou a resposta, continuou a me olhar, e eu
finalmente já me perguntava se realmente devia estar sentado ali ou se deveria,
discretamente, me levantar e sair de perto daquela mulher. Comecei a tentar
ignorar ela.
– Você é bonito... – disse ela depois de alguns minutos,
me cutucando no ombro.
Nesse momento meu rosto automaticamente desenhou um
semblante de “oi?” e sem querer já estava agradecendo.
– Err... Obrigado – novamente me virei para tentar
ignorar ela.
– Sabe o que é? – eu não sabia, mas ela continuou a falar
– é que sou uma cigana e desde que sentou aqui estava sentindo suas vibrações,
que, aliás, estão muito pesadas.
– Desculpe, eu acho... – falei incerto e olhei
instintivamente para ela.
– Posso ler sua mão? – perguntou.
– Mas não tem nada escrita nela não, moça! – respondi
ironicamente e já me preparando para sair de perto dela.
– Não vou te cobrar nada não! – segurou minha mão com
força de forma que se eu puxasse provavelmente acertaria alguém do lado.
Fiquei calado, tentando fazer uma cara de “quem é essa
psicopata? Ou de pelo amor de Deus me tirem dessa situação”, mas em vão, claro,
afinal até a ocupante da cadeira da frente virou para ver o que ela iria ler.
Sendo assim, me resignei e deixei ela “ver meu futuro”
– Hmmm, vejo que pela sua linha do trabalho que se você
trabalhar corretamente, muito em breve será bem sucedido... – (sério mesmo! Eu
tive que ouvir isso...) – Vejo também que é dono de seu próprio negócio, é um
empresário!
Ela notoriamente não gostou muito de minha risada. Porém
não tinha como não rir, como assim eu era um empresário andando de ônibus. E
que raio de previsão é essa de que se você trabalhar bem será bem sucedido?
Enfim, ela puxou minha mão direita.
– Ta vendo essa linha? É sua linha da vida – disse ela em
tom de ameaça – e vejo que ela tem uma pequena ruptura. Significa que deve ter
cuidado com acidentes...
Fiquei pensando... Será que só eu tenho que ter cuidado
com acidentes?
– Agora, essa é a sua linha do futuro – até me assustei,
nunca ouvi falar de uma linha dessas – e aqui eu posso prever quase tudo de sua
vida, e olhando bem... Prevejo morte em sua vida!
Nesse momento, finalmente chegou meu ponto. Avisei a ela
e puxei a mão com certa educação.
– Esse aqui é meu cartão, vá ao meu centro esotérico que
retirarei a morte que vejo em sua vida – afirmou ela.
Saí sorrindo. Cheguei à conclusão da primeira pergunta
que me fiz: Não, não deveria ter me sentado ali.
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Criação Lúcio Vérnon. Tecnologia do Blogger.
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