quarta-feira, 29 de outubro de 2014
É... De alguma forma creio ter me perdido no tempo, muito embora eu tenha menos idade que a maioria dos considerados idosos nesse país. Antigamente, e me refiro a acontecimentos de apenas 10 para 15 anos atrás, as pessoas costumavam conversar mais, ao menos de onde venho. Não tinha essa coisa de permanecer mil horas em frente ao computador fuçando em um perfil de fulano ou ciclano, só para ver o que a pessoa anda fazendo.

Não, naquela época as pessoas tinham mais o que fazer e, se quisesse realmente saber ou participar da vida do interessado, buscavam uma aproximação cara a cara. Virtualidade era o conceito aplicado a algo existente apenas em nossa imaginação. Completamente diferente dessa considerada amizade atual ou lugares criados para conhecer pessoas, como o Tinder, que não existe fisicamente falando. Não, naquela época a melhor forma de se fazer novas amizades ou mesmo de ‘chavecar’ aquela guria ou guri era a boa e velha roda de amigos, mesa de bar, uma saída na livraria, talvez um café...

 É... Acho que devo ter me perdido em algum lugar no espaço. Sei lá, penso que sem querer entrei numa máquina do tempo e fui trazido para esse futuro meio que insólito, onde crianças preferem dez vezes a companhia de um controle de vídeo game numa sala à meia luz, aos amigos da escola. Na minha época – e olha que eu só tenho 27, faltando uma semana para 28 – jogava sim videogame, mas com amigos reais do meu lado, não numa conferência cibernética via Skype, Raidcall ou qualquer outra ferramenta de conversa a distância. E se aparecesse algo como uma boa nadada no rio, futebol, vôlei ou mesmo uma caminhada sem rumo na cidade, eu deixava qualquer vídeo game para trás, sem nem pensar duas vezes.

Não tinha essa de querer ficar sozinho num quarto escuro olhando para uma tela brilhante, em busca de uma falsa felicidade, na esperança de descansar a mente... Não. E se por ventura eu resolvesse ficar em frente a uma televisão o dia todo, meus pais praticamente me obrigavam a sair de casa e ir fazer algo da vida, seja um esporte, trabalho, ou mesmo ir visitar um parente. Particularmente gostava de ir para casa de minha avó ouvir histórias, tomar café e comer pitanga.

É... Sei lá, realmente não devo ser desse ‘futuro’ tão presente. Hoje as pessoas parecem não querer mais ler. Não é difícil ver até mesmo entrevistas com celebridades falando que ‘não é muito interessado em livros’ ou que não tem motivações para assistir um teatro... Que tipo de crianças formarão com tais afirmações? Que tipo de cidadãos surgirão nos próximos anos, sem o mínimo de senso crítico? Não, na minha época não era assim... Um dos programas que achávamos mais divertidos era justamente a visitação da biblioteca para escolhermos qualquer livro, para que depois pudéssemos brincar fingindo/imaginando ser um dos personagens principais.

Disputávamos os melhores lugares na frente do teatro escolar para ver uma boa interpretação de alguma peça local. E, sim, tirávamos sarro dos colegas que se vestiam de forma engraçada para o papel escolhido, não no sentido de Bullying, mas na inocência de uma brincadeira que, muitas das vezes, queríamos ser o tal ridículo e fazer tão bem quanto eles.

É... De alguma forma devo ter me perdido no tempo.  E olha que não considero que aquela época passada era melhor que essa, não. Tínhamos muito mais dificuldades do que atualmente para soluções que, hoje, consideramos tão simples de resolver. Saúde? Essa era um dos maiores desafios para aquele tempo, as máquinas não tinha essa tecnologia que tem atualmente, entretanto os médicos conversavam com os pacientes, eram amigos de frequentar casa, não existia toda essa frieza de um hospital em que você quase pede desculpa por estar doente.

Comunicação? Esse também era outro grande problema, não era fácil mantermos contatos, tínhamos que enfrentar ligações em que se cobrava o pulso e não o minuto falado. E não tinha esse ‘advento’ das redes sociais que, apesar de prometer aproximar as pessoas, afasta mais ainda os amigos (por picuinhas e indiretas). Mas pelo menos assim as pessoas mostravam interesse nos presentes das rodas de conversa e não numa tela minúscula brilhando mensagens do Whatsapp informando conversas de pessoas que nem estão ali.

Informação? Sim é bem verdade, aquilo era um enorme problema. A informação era cerceada, por falta de meios de comunicação sofisticados como os de atualmente. Entretanto, os jornais tinham mais credibilidade, menos sensacionalismo e eram mais preparados para falar sobre o tema. Não eram desses que fazem notas para o Jornal Daqui, Coluna da Geleia Real e se acham os "top dez do mundo". Não, jornalistas pesquisavam o tema, basta olhar as reportagens, ninguém perguntava à uma mãe que acabou de perder o filho, como ela está se sentindo.

Sofrimento? Sim, isso sempre foi constante. Não tínhamos muitas coisas devido a forma que era governado o País, e olha que estou falando da época de FHC. O desemprego era extremamente alto, a educação na escola era completamente desestimulada, porém ainda assim, tínhamos bons professores, não esses ‘showmans’ que fazem tudo para promover um cursinho. Aliás se a educação fosse boa não precisaria de cursinho. Sofríamos, sobre tudo, pelo medo do mundo acabar, do ‘bug do milênio’, pelas dificuldades de viajar, pela falta de dinheiro, médicos, hospitais, escolas, privatizações, falta de internet em casa... Mas se quer saber, pergunte a alguém daquela época se trocaria um minuto daqueles anos por esses...

É... Devo ter me perdido durante alguma curva no tempo...


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