quinta-feira, 16 de outubro de 2014
O dia hoje prometia...

Graças a ideia de uma amiga para apresentação de uma palestra, eu estava vestido como há muito não faço, todo de preto, num dia em que a palavra calor já se tornava em mantra popular em plenas seis horas da manhã.  Sendo assim, um chapéu branco na cabeça para tentar suavizar não iria ser exatamente uma má ideia... Ao menos algo iria proteger minha cuca. A palestra durou pouco tempo, o tema não era lá dos mais complicados, e a sala estava quase cheia e em silêncio. O problema mesmo foi após tudo. Tive que voltar para minha casa sob um sol de quase meio dia.

 Eu suava igual um pano de cuscuz baiano e tinha mais sede do que peregrinos no deserto. Eu sentia o calor do asfalto no pé, como se estivesse descalço, e não importa por onde eu andasse, não havia sombras... Confesso que nessas horas eu me pergunto, por que não ter um carro? Mas tenho a convicção de que ter carro não melhora em nada a locomoção em Goiânia, já que as ruas são tomadas por eles e ninguém vai a lugar nenhum se não demorar ao menos quase 40 minutos num congestionamento.

 – Nossa, você tem uma cara de cafajeste... – ouvi uma voz feminina logo atrás de mim, até pensei ser minha amiga Ingrid, já que conversávamos sobre isso mais cedo – Não gosto muito de cafajestes...

Olhei para todos os lados, queria ter certeza de que aquela menina de cabelo vermelho, de roupa branca, aparentemente estudante do curso de farmácia estava falando comigo. Retirei meus óculos.

– Olá! Bom dia para você, como vai tudo bem? Prazer meu nome é Lúcio – disse ironicamente e claro seguindo meu caminho – espero não desapontado, mas é a única cara que tenho, desculpe.

– E porque tem só essa cara? – disse a menina me acompanhando, para meu quase desespero mental – Não tem como mudar?

E aí paramos para analisar o acontecimento. Estou caminhando de preto, num calor que faria qualquer um ir para o sertão nordestino em busca de ar fresco, e agora, do nada, tenho que mudar minha cara apenas para agradar aquela ‘guria’ do qual se quer conhecia. Sério, tem horas que penso que povo gosta de tomar patadas atoa. Mas dessa vez eu apenas ri, não disse nada, vai que era doença.

– Você, um rapaz tão lindo... Essa cara só faz afastar as mulheres – insistiu a menina – dessa forma você nunca terá uma namorada.

Não consegui conter, minha sobrancelha subiu como se fosse algo mais do que habitual. Como assim só afasto mulheres com essa cara? Se fosse verdade eu não a teria afastado? E como assim nunca terei namorada? Se minha gigante ouvisse isso iria rir eternamente, tadinha ia ter um troço, nunca mais ia parar.  Mas continuei ouvindo, até porque coisas estranhas às vezes são divertidas e discordar de loucos pode ser perigoso...

– Você precisa entender que com esse tipo de rosto fica evidente que você não é fiel – continuou me avaliando a mulher – Dessa forma quem é que vai querer sair ou até mesmo caminhar contigo?

– Moça, oi, posso perguntar uma coisa? – Não resisti continuar no meu ciclo de silêncio e ela acenou positivamente – Se sou assim tão mal e cafajeste, por que simplesmente não para de falar comigo, se nem nos conhecemos mesmo? E outra, não seria essa sua atitude, na verdade, uma forma de querer chamar minha atenção para você, uma vez que sempre passo por aqui e nunca se quer imaginei a sua existência? Não seria uma forma de você querer ter um cafajeste só para você?

Nessa última pergunta, mudei um pouco minha voz no melhor estilo cafetão latino americano e dei um sorrisinho de lado. A moça ficou rubra, ainda não sei se de raiva ou de vergonha.

– Minha namorada não iria gostar muito de uma mulher bonita, mas completamente indecisa e sem nenhuma noção do que fala dando em cima de mim. Ela pensa que se eu não for fiel que ao menos tenha bom gosto, e bem não teria se me interessasse por essa conversa – continuei a dizer enquanto ela se engasgava com as palavras.

Por um momento, pensei que ela ia simplesmente virar sem falar nada. Quase acertei, mas...

– Viu só! Você é mesmo um cafajeste, deveria se tratar! – disse ela e saiu da calçada em direção ao outro lado da rua, mas ainda me encarava de vez em vez.

Fiquei pensando. Então alguém te para na rua para te ofender do nada e eu que tenho que me tratar? É acho que esse calor anda fritando um pouco mais o cérebro das pessoas do que o normal. Mas bem, meu dia continuou normal após isso ou quase.  

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