sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Se tem uma coisa que vem tomando conta de minha cabeça hoje é a pergunta: O que será que os cabos eleitorais tem contra meu café da manhã?

Diferente da última vez o sol já havia nascido há algumas horas. Sexta feira é dia de eu começar meus afazeres mais tarde. Mas nem por isso deixei de ir a minha padaria favorita comprar meu café, que hoje seria mais reforçado. Misto quente e suco de limão. O horário de pico já tinha se encerrado, mas ainda assim era possível ver grandes aglomerações de pessoas dentro do terminal Praça da Bíblia, nada fora do comum.

 – bom dia moça – falei com a balconista da padaria que já me olhava com uma cara estranha, acho que se lembrando dos supostos homossexuais da última vez – me vê um misto completo e um suco de limão, por favor.

– posso ficar te devendo o bacon? – respondeu a atendente, sem me devolver o bom dia – é que o nosso fornecedor não veio hoje.

– Pode me dever bacon sempre, moça – respondi sorrindo e ela fez uma cara de quem não entendia o motivo – sou alérgico a carne de porco e nem sabia que no misto ia isso.

– Ah é misto! Desculpe – respondeu confusa – já levo para o senhor.

Novamente esse tratamento, até entendo a educação. Mas dispenso completamente, se ainda fosse com um amigo meu, que acredito ser mais velho que a própria terra... Bem, mas enfim.

Sentei à mesa e fiquei observando a rua enquanto meu café da manhã não vinha. As pessoas passavam de certa forma apressadas para o terminal, outras pareciam não ter nada haver com a pressa do dia, acredito que nem queriam ter levantado da cama. Tudo seguia seu curso, inclusive os atrasos diários do transporte coletivo, devido o trânsito ou a má vontade do motorista mesmo.

A mulher me trouxe o lanche e quatro pessoas entraram na padaria. Duas delas com adesivos azuis no peito e um número bem conhecido, que não irei citar, mas fica entre a casa dos 44 para os 46. Elas olhavam quem estava sentado. Eu puxei o fone de ouvido, afinal cachorro picado de cobra tem medo de linguiça. Mas de nada adiantou, uma menina com seus 18 anos, creio que no primeiro voto ainda, com um vestido branco, tiara azul no cabelo veio até mim.

– Olá, bom dia! – Falou absolutamente feliz e antes mesmo que eu conseguisse ligar a música no meu celular – você já tem presidente?

Minha sobrancelha levantou-se, pensando na ironia que eu utilizaria dessa vez.

– Não, moça – respondi mais do que pronto – minha vida ela é guiada pelo absolutismo, em que eu absolutamente controlo tudo, não é regime presidencial.

Como o último cabo eleitoral que me parou, não entendeu patavina. Sinceramente não sei de onde surge o cabo eleitoral. Será que são plantados, ou será que nascem das carteiras do partidos com dinheiros públicos/financiados?

– Ah! Então deixa eu te apresentar meu candidato a presidente – insistiu a moça, enquanto eu olhava de um lado para outro, para ver se não ia surgir uma outra pessoa do nada... Tenho medo dessas apresentações.

– Do contrário da outra candidata, nós temos propostas mais amplas e bem elaboradas. Queremos dar continuidade às obras que deram certo e mudar completamente as que deram erradas – continuou, enquanto eu discretamente encaixava um fone de ouvido do lado esquerdo e mordia meu sanduíche – nós vamos também, acabar com a corrupção no Brasil!

Abri mais o olho impressionado. Ela disse que o candidato, conhecido por construir um aeroporto na fazenda de um parente com dinheiro público, vai acabar com a corrupção, assim do nada? Claro... Claro... Eu realmente queria saber de onde surgem os cabos eleitorais. Eles acham que não sabemos das informações, que não temos conhecimentos. Tisc tisc...

Mordi outra vez o sanduíche. Fiz um sinal para a mocinha do balcão pegar um copo descartável, pois eu iria colocar meu suco nele.

– Entendo – respondi, tentando mostrar desinteresse, mas não falei mais nada.

– Mas e então o que acha do meu candidato? – falou tocando a mão no adesivo do peito.

– Sinceramente, nada – respondi, tentando rir simpaticamente para não assustá-la – se ele cumprir as propostas será bom, só isso.

– Mas é por isso que estou te apresentando meu candidato – insistiu, enquanto a atendente colocava meu suco em outro recipiente – e todo mundo gosta dele, só os nordestinos que...

– Não, moça – interrompi, pegando meu lanche e dirigindo ao caixa – você está me apresentando um papel e não seu candidato, ele não está aqui e nem é Deus para estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Eu sou nordestino e antes que conclua o que quer que seja, eu não sou do tipo que gosta de ficar de papo com cabo eleitoral, são fanáticos demais para ver um palmo. Por isso, me dê licença preciso mesmo tomar meu café da manhã, antes que me atrase. Bom dia.

Ela se levantou, logo atrás de mim, e saiu pisando duro para conversar com a outra. Acho que não gostou de minha resposta. Eu vim comer em minha casa. Vai que me aparece outro cabo lá

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