quinta-feira, 18 de setembro de 2014
– Vai para calçada vagabundo! – Gritou um senhor com
uniforme de polícia de dentro de seu Gol do ano.
Já era quase meio dia. E logicamente, como qualquer
outro, eu estava louco para ir para casa fazer o almoço. Mas com aquele grito até fiquei sem reação.
Olhei para o lado, e para o outro, me fixei na possibilidade de que ele não
estivesse falando comigo, em vão, e por uma fração de segundo ponderei na
possibilidade de realmente ir para a calçada. Entretanto essa não seria uma escolha
possível.
Nas capitais em que a fiscalização e o respeito aos
pedestres funcionam, talvez essa fosse a ação mais comum. Afinal nessas cidades
utópicas brasileiras, há espaço para conviver carros e pessoas com harmonia.
Porém esse não é o caso de Goiânia. Após
nove anos morando aqui, aprendi que a cultura da calçada nessa cidade é bem
diferente. Primeiramente é preciso entender que não existe de forma alguma calçada.
O lugar onde supostamente é feito para o deslocamento de pedestres, na verdade
é um estacionamento de carros, ou lugar onde se colocam mesas de bares e
restaurantes. Afinal, por algum raio de motivo, os donos de estabelecimento
acham que deixando um corredor de apenas 45 cm de distância entre as mesas é
preservar a passagem dos que necessitam por ali passar.
– Desculpe, eu até iria para a calçada se tivesse espaço
para eu ir – respondi, tentando ser o mais educado possível depois de ser
ofendido de vagabundo – Mas se você me apontar um lugar iria com maior prazer.
– Rapaz, isso é um desacato... – Ele aumentou o tom de
voz e saiu do carro, permitindo que eu visse o nome no uniforme, do qual vou
tratar pelo nome fictício de Cabo Silva.
– Sabe seu guarda, eu concordo com você, é um desacato
total – interrompi levantando a minha sobrancelha, como já de costume – imagina
só, policiais formandos estacionando carros na calçada só por que acreditam ser
autoridade e por estarem na frente da academia.
Eu podia ver a raiva nos olhos daquele homem. Ele
terminou de descer do carro e esbravejou.
– Você sabe que pode ser preso por desacato não é
vagabundo?! – olhou pra mim de cima a baixo.
– Ué, mas quem está sendo desacatado sou eu... – respondi
rindo – veja bem, eu estou tentando ir para minha casa, sou chamado de
vagabundo por você e ainda acha que pode me ensinar a voar para andar em cima
do carro de seus colegas?
Nesse momento, algumas pessoas já olhavam de longe um
homem nervoso e gritando... E aparentemente ele viu.
– Sai da minha frente, vagabundo. Fica na porra desse
meio fio e espera eu passar, caso contrário passo por cima de você – ameaçou.
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Criação Lúcio Vérnon. Tecnologia do Blogger.
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