terça-feira, 4 de novembro de 2014
Goiânia, como no restante do país, também se organiza em filas. São filas para banheiro, caixa de supermercado, loterias, estacionamento proibido em curvas, filas de mesas nas calçadas, e até fila para usuários de drogas. O único lugar que ainda não vi fila foi para entrar no transporte coletivo. Nesse caso, o povo simplesmente sai atropelando o que vê pela frente e não respeitam idosos, grávidas, muito menos crianças.

Porém o que mais me impressiona são as situações e conversas que podemos presenciar nas filas, principalmente quando vamos fazer compras. Por ventura, hoje, logo que tive uma pequena folga após seis horas ininterruptas de trabalho, sem almoço, mas com um pouco de café graças a namorada, resolvi que seria interessante esticar alguns minutos para comprar qualquer lanche num supermercado a caminho de uma prova aplicada pelo professor Joãomar, em minha graduação.

 Assim que entrei no Prátiko, não notei nada de estranho. As filas dos caixas estavam normais para o horário e lá no fundo outra fila se organizava entre a sessão de pão e frios. Em ambas as sessões alguns adolescentes trabalhavam fazendo a reposição de produtos em meio a conversas que, apesar do meu fone de ouvido, pareciam animadas e com um bom tom de brincadeira. Já no balcão, algumas meninas se revezavam no atendimento, o mais lento possível.

– Um sanduíche natural, por favor – pedi a moça.

E não sei como tudo começou, mas de repente, assim como quem teleporta para seu lado, dois rapazes que estava fazendo a reposição de frios, começaram a discutir e brigar em voz alta. Era ofensa para todos os lados e não faltaram elogios às mães, irmãs e cunhadas... Num dado momento, obviamente, os que estavam fazendo compras começaram a assistir a briga, alguns, inclusive, sacaram seus smartfones para dar aquela filmada para um possível post nas redes sociais ou youtube.

Entre um empurrão e outro, um que estava mais próximo do frízer aberto se armou de um rolo dessas salsichas defumadas, enquanto o outro, que estava perto da sessão de congelados, catou uma caixa de pizza Sadia. Por um momento me lembrei de Adoniram Barbosa cantando ‘Um Samba no Bexiga’ e de fato imaginei várias pizzas voando para todo o lado. Mas o que havia pegado o rolo começou a dar salsichada em cima do rapaz com a caixa, que a única coisa que podia fazer era utilizar como escudo.

O garoto batia como podia, enquanto o outro se defendia e no meio de tudo isso o que estava com a salsicha, em fúria, gritava que uma tal Maria não era para o bico do que segurava a pizza e que era só dele...

“Pronto era o que me faltava... Ir atrás de um sanduíche e entrar num ‘samba do criolo doido’ em que a Maria já tem dono, por engano” (Pensei rindo)

 Nesse meio tempo, enquanto assistíamos tudo, uma moça de feições estritamente mais nervosa que os dois que brigavam e de aparência mais nova, sob os cabelos loiros, pintados à californiana, desvencilhou de um balcão repleto de pequenas pedras de gelo da sessão de peixaria, arremessando o que visse pela frente no rapaz armado de um rolo de salsicha. Um camarão passou perto do rosto de um gordo de camiseta branca, ridícula, que mostrava uma marca ainda maior de outra camisa sobre o corpanzil branco.

Ela gritava que não tinha porque nenhum deles brigarem por ela, afinal ela ‘ficava’ com quem quisesse e que agora não ‘ficaria’ com nenhum deles...

A briga durou mais ou menos 5 minutos, na minha contagem, enquanto eu mesmo permanecia meio que agachado com medo de uma ‘salsichada’ ou mesmo ‘camarãozada’. O gerente chegou correndo, com seu topete no estilo Elvis e uma voz que ainda no começo do corredor de biscoitos era possível perceber a força.

– Que porcaria é essa aí! – ressoou a voz – Vão ter que pagar!

Os meninos se entreolharam, agora quase que como cúmplices. A multidão passou a encarar o gerente bem em frente aos rapazes e olhando de canto de olho para a menina.

– Todos os três, por favor, subam para o meu escritório – disse.

Os seguranças só chegaram para isolar a área para a limpeza. Os brigões se foram. O gerente tentou se desculpar com cada um que estava naquela fila e ofereceu um desconto pelo papelão de seus funcionários.  Após isso, tudo voltou ao normal, se é que posso dizer assim. No caixa, as moças que operam os computadores perguntavam o que havia acontecido e, pelo vidro do primeiro andar, podia se ver três garotos cabisbaixos.


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