segunda-feira, 3 de novembro de 2014
E
de longe já podia me ver correndo como quem vai tirar o pai da forca. Não! Eu
não estava fazendo um cooper, nem tão pouco estava vendo uma horda de torcida
organizada vindo em minha direção para assaltar. Não! Também não estava com
diarréia e muito menos precisava ‘conquistar’ o transporte coletivo. Eu só pensava
no motivo pelo qual coisas bizarras tendem a acontecer comigo...
Só
para variar um pouco, perdi o horário e para não chegar atrasado resolvi
retirar um pouco de meu dinheiro para pagar um táxi ao invés do costumeiro
transporte coletivo da linha 021 (Flamboyant/Pça. Bíblia). O dia estava
tranquilo, devido o horário de pico estar no final, além disso, dessa vez
resolvi não comer por ali perto, afinal os últimos lanches, de certa forma,
foram perigosos para minha sanidade.
Atravessei
a Av. Anhanguera até o final da canaleta onde passa o ‘Eixão’, nome dado aos
ônibus biarticulados que compõe a malha do transporte coletivo da Capital. Como
disse anteriormente o dia estava calmo, quanto a tráfego, mas ainda assim quase
fui atropelado, por erro meu mesmo, pois esqueci de olhar para o lado e por
pouco não aquele gigante veículo azul da
Metrobus, vindo em minha direção. Parei a tempo, quase virei estatística de
atropelamento.
Logo
após a canaleta, estavam estacionados oito carros da Rádio Táxi Bandeirantes.
Note que eu disse oito, não um ou dois carros. Todos ali parados esperando
clientes. Não sei como funciona em outras cidades, mas aqui existe uma ordem, o
carro que chega primeiro no ponto é o primeiro a sair com o cliente. Não tem
dessa de preferência por motorista. E bem que eu gostaria que tivesse.
–
Bom dia, quem é o da vez? – Perguntei ao primeiro que vi fora do carro.
–
É aquele ali – respondeu solícito, mas já entrando no carro para pegar a vaga.
Um
pouco antes de eu chegar até eles, vi que dois veículos haviam saído com outros
passageiros. Sendo assim eu era o terceiro, daquele momento.
–
Por favor, coloque a mochila no banco de trás – Pediu quase que educadamente.
Atendi
ao pedido, não havia motivo para negar. Também poderia ir atrás, junto a minha
bagagem, mas preferir ir no banco da frente por ser desconfiado que indo atrás
ele pode fingir não me ouvir e ir pelo caminho que preferir. Além do mais não
sou do tipo de cliente chato que não gosta de conversar com o motorista, muito
pelo contrário, vejo como uma boa oportunidade de coletar mais histórias.
O
trajeto não ia ser tão longo, apenas do Universitário às proximidades do
Estádio Serra Dourada. Assim que entrei no veículo o motorista pediu desculpas
por não permitir que eu levasse a bagagem comigo, ali na frente, por conta de
um outro passageiro que arranhou completamente o painel do carro, também com
uma mochila. Analisei o estrago. Parecia briga entre o passageiro e o banco.
–
Mal te pergunte, você trabalha com o quê? – Perguntou o motorista.
–
Em teoria sou um jornalista – respondi cordialmente e já emendando um assunto –
mas pelo salário que é pago para nós, estou pensando seriamente em investir em
táxi.
Ele
riu da brincadeira. Mas queria saber em que veículo de informação eu
trabalhava. Expliquei que na verdade faço, atualmente, assessoria e que tenho
esse blog como um desabafo das idéias que me vem visitar sobre o convívio dessa
capital que tanto aprendi a gostar.
–
É que eu gostaria que você “fodesse” uma pessoa pra mim... – continuou após um
minuto de silêncio.
–
Posso não, irmão. Tenho namorada e ela não vai gostar nada, nada! – Respondi em
tom de brincadeira, como se não houvesse entendido que ele estava me vendo como
uma possível catapulta para denúncia. (Não sei de onde vem essa ideia que
jornalista é policial).
De
imediato ele riu, mas insistiu no assunto. Sacou o celular do bolso no mesmo
instante que ia fazer uma ultrapassagem. Eu, já olhando de canto de olho,
agarrei a mão direita na alça próxima a porta, que apelidamos carinhosamente de
‘pqp’ e pedi para que não fizesse isso, afinal preferia chegar vivo no trabalho.
Ele atendeu ao meu pedido, mas logo a frente havia um semáforo. Para o meu
desespero, ele começou a fuçar no celular e com o dedo arrastar as fotos que
não queria me mostrar, até parar numa pasta.
De
início confesso que não identifiquei as imagens, eram uma mescla de fotografia
com reflexos produzidos pelos carros da rua e o sol. Porém, ele era insistente
e abaixou o celular, pondo bem em minha vista. Era um pênis queimado. Sim, meus
caros, eu não disse outra coisa. Bem que gostaria, mas ele me mostrou a p*rra
de um pênis queimado. Seu pênis, na verdade.
Minha
cara naquele momento era uma mistura de pânico, descrença e um notório “puta
que pariu o que diabos eu to vendo?” O táxi já estava perto do local onde eu
queria chegar. Na verdade estava bem em frente a faculdade onde estudei e eu só
iria precisar caminhar um pouco mais até o Parque Flamboyant.
–
Irmão pode parar o táxi aqui, é aqui onde eu queria ficar – disse já sacando a
carteira, olhando para o taxímetro e tentando não olhar no olho dele.
Ele
parou o carro. Mas não destravou as portas.
–
Desculpe a falta de “ética” – disse ele, colocando a mão sobre a calça – mas
minha ex-mulher é louca e preciso denunciar ela.
O
taxímetro marcava exatos R$ 10,00, comecei a tatear a porta procurando algum
lugar para destravar, por sorte achei, mas não a tempo, eu ainda tinha que
pegar a mochila no banco de trás. E nesse momento aconteceu o mais bizarro.
–
O que eu digo é verdade! Você precisa denunciar ela! – Disse ele, abrindo o
zíper e colocando aquela coisa queimada, enegrecida pelo que quer que seja,
murcha e completamente desfigurado.
Senti
uma dor profunda, como se fosse em mim mesmo, quase vomitei, joguei o dinheiro
no banco e saí correndo.
De
longe já podia me ver correndo como quem vai tirar o pai da forca...
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