quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Sabe mãe, estava caminhando na cidade, e acho que de tanto andar, só hoje percebi a esquizofrenia que a humanidade está adquirindo. É, mãe! A esquizofrenia do imediatismo. É uma pressão alucinada e com brilhos dourados de cifrões que piscam, ainda mais, nos olhos de que tem dinheiro. Uma urgência tão grande que deixa a falsa impressão de que um dia tem menos tempo do que o outro. E essa correria, nos faz sentir tão sós... Não há tempo para conversas na porta da casa, não há tempo para olharmos para o lado e ver que nada disso vale a pena. E com pressa não interessamos se no fim não aproveitamos os poucos minutos ao lado de quem gostamos. Importa menos ainda para muitos que dirigem nas estradas, correndo para economizar míseros segundos.
Sabe mãe, estava caminhando em uma das avenidas de lojas e percebi que aqui já é natal. Na verdade, desde Outubro!... Mãe, pessoas morrem, aqui, a cada segundo de acidente de trânsito, por não quererem esperar, um ou dois minutos, o Semáforo abrir. Até as escolas prometem lhe ensinar qualquer língua em menos de um ano. Não vou me surpreender se um dia eles prometerem para uma grávida que ela terá o filho em um mês. Tudo é muito superficial, tudo você recebe agora, a comida precisa nascer pronta ou se não, em 30 segundos no microondas já poderemos nos deliciar, com a mais pura ilusão da promessa que a comida foi feita com amor. Quando simplesmente não desistimos de esperar nos primeiros momentos.
Na verdade é isso mãe, estava caminhando na cidade. Percebi que a humanidade está tão presa em suas próprias ilusões que somos incapazes de perceber que isso só nos leva mais rápido ao cemitério. Seja em acidentes urbanos, pois tínhamos pressa de chegar, seja em estresse por que somos incapazes de ser onipresentes. Porém, mãe, só posso tentar não enlouquecer, e é tão difícil... Não dá para eu me meter e mostrar essa nova doença secular...
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Idosos conversando na "boca madita" |
Sabe mãe, sinto falta de quando ainda aí no interior, mesmo com poucas condições, como sempre fomos e ainda somos, não nos faltava nada, e podíamos gastar mais do que oito horas apenas para ir na beira do rio, ficar jogando conversa fora. Ou ainda mais simples, ir na casa de vovó e tomar um café, enquanto ela contava os causos antigos.
Sinto falta, mãe, de ver os vizinhos na porta tocando violão, ou da criançada com quem eu brincava na rua e, principalmente, de não importar muito com essa urgência do 'ser' adulto, ou a urgência de me tornar um homem, como dizem alguns que não sabem que ser homem ou mulher é justamente o oposto, é passar tempo com a família, é conversar, e ter o principal: caráter, pois mais tarde nada que conseguimos materialmente nos seguirá.
Sabe mãe, saí pra caminhar. Vi na 'boca maldita' alguns senhores conversando, assim como eu reclamava do tempo, outro vendia suas flores. Eu aprendi, com ele, que o preço da rosa, mãe, é sempre mais caro quando não há tempo de olhar.
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Criação Lúcio Vérnon. Tecnologia do Blogger.
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