quarta-feira, 12 de novembro de 2014
“- Você é muito
inteligente. - disse eu ao garoto.
- Obrigado.
- Já sabe o que vai ser quando você crescer?
- Já. Vou ser caminhoneiro.
- Mas não pensou em outra coisa, você tem muita capacidade, pode ser qualquer coisa!
- Bem, eu queria mesmo ser médico...
- Ora, então seja!!
- Não posso!
- Não pode? Não pode por que?
- Porque eu sou negro.”
- Obrigado.
- Já sabe o que vai ser quando você crescer?
- Já. Vou ser caminhoneiro.
- Mas não pensou em outra coisa, você tem muita capacidade, pode ser qualquer coisa!
- Bem, eu queria mesmo ser médico...
- Ora, então seja!!
- Não posso!
- Não pode? Não pode por que?
- Porque eu sou negro.”
Esse é um diálogo que está
publicado no texto “porque eu sou negro”, do médico pediatra e neurologista
infantil João Paulo porto.
Durante a manhã, tinha
visto esse texto brotar na minha ‘timeline’. Estava meio apressado, mas ainda
assim parei para dar uma espiada no que se referia e não tive como deixar de
pensar em alguns amigos de infância que tenho. Era tão comum ouvir aquilo...
Saí de casa, atrasado para
variar. A mochila estava pesada e eu carregava, além do meu companheiro de
trabalho, alguns livros que ganhei na semana passada, como lembranças de meu
aniversário. O dia seria mais tranquilo que ontem, pouco trabalho para realizar. Então,
só para não perder o costume, achei por bem comer algo na Panificadora
Califórnia.
Pedi um suco de laranja e
um pão na chapa. As mesas estavam quase todas lotadas, mas ainda assim achei
uma no meu cantinho preferido do estabelecimento. Estranhamente a Avenida
Anhanguera estava com um policiamento mais reforçado, porém nada que fosse de
tão anormal, a não ser a insistência que eles têm de ligar a sirene, apenas,
para atravessar um cruzamento. Afinal, eles são melhores que todo mundo.
Lá na frente, sentido Jornal
Diário da Manhã, vinha um amigo. Keza, ele é angolano, ‘negão’ e não 'afrodescendente'.
Assim como eu, detesta esses nomes que dão para tentar esconder o preconceito.
Após nos cumprimentarmos, pedi para que me esperasse um pouco. O caminho que iria fazer era o mesmo que meu e assim teríamos, ao menos, uns dez minutos de conversa agradável. Também queria mostrar umas fotos que havia tirado para seu trabalho. Só que atrás de nós, sem percebermos, vinham três motos
de uma equipe policial. Adivinhem o que aconteceu?
Bem, assim que puxei o celular para ver as horas e mostrar as fotos ao Keza, nome de batismo, as motos chegaram apitando e nos cercando como se fossemos terroristas. Sacaram seus 'pequenos' fuzis e apontaram para a cabeça do angolano que, logicamente, olhou assustado.
– ‘Tá’ tudo bem aqui? – um dos policiais me pergunta.
– Errrrr... Estava – Respondo, rindo de nervoso, quase que com tique no olho.
– Então porque estava passando o celular para ele? Ele te ameaçou? - retrucou o policial com a extrema convicção de que eu não poderia querer simplesmente mostrar algo ao Keza.
– Errrr, oi? Eu Só queria mostrar uma fotografia para ele... - Cocei a cabeça e parei de rir com medo de não me segurar e dar uma resposta mais malcriada.
Enquanto isso, ele estava lá,
de mãos na nuca, camisa branca, calça jeans nova e sapatos sociais. Diga-se de
passagem, muito mais bem vestido do que eu, que estava de camiseta, Chapéu panamá
e um tênis.
– Vamos só verificar
antecedentes, para a rotina, isso é para a segurança de vocês mesmos, pois estamos
fazendo trabalho preventivo – afirmou o policial com um tom bastante
desconfiado.
15 minutos depois, finalmente
fomos liberados. Os policiais sequer me revistaram para falar que a abordagem
foi igualitária.
– Porra, irmão, desculpe...
nunca pensei... – Começo a me desculpar sem jeito, não sabia o que falar.
– Não esquenta, não é culpa sua. Isso acontece, porque sou negro. – Contrariado, visivelmente, Keza respondeu com seu sotaque carregado.
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